SÍRIA: DO BERÇO AO PÓ DA CIVILIZAÇÃO, by: obviousmag ~ Desintelectual

Território que carrega as mais antigas crônicas do homem: Damasco é a mais antiga capital habitada, continuamente, do mundo. E seus muros e arquitetura nos levam a uma viagem milenar, com uma vasta e extraordinária bagagem sociocultural.

civilizacao, guerra, historia, medio, oriente, revolucao, siria

Desde a antiguidade, a Síria é cravada de implacáveis conflitos e guerras, com uma civilização já acostumada aos ataques subversivos – internos ou externos – e já cansada de existir em um fatal terreno de instabilidade. Nos tempos bíblicos, seus reis armavam exércitos contra Israel, sua mais truculenta relação. Milhares de anos depois, as tensões não deixaram de existir entre as duas nações. Aliás, entre a Síria e várias outras nações, entre a Síria e o seu próprio povo.

Este é um povo que hoje levanta e sai às ruas em busca de soluções para suas casas e almas injuriadas. É direito, é revolta, é radical, é o que as nações estão ensinando umas às outras, como se fosse o moderno código de conduta, no qual a massa, o povo, a cambada, ensina o governo a ser parte e construir a verdadeira e utópica civilização, que significa progresso e desenvolvimento. E que muitas nações vêem afundar com suas esperanças de um país melhor. A Síria entra no jogo, como sempre. E entra com força grande nos dois lados. Os a favor do governo, e os opositores. Aqueles que proclamam ser pela paz e não marcham para nenhum dos lados, muito provavelmente correm. Para todos os lados que é possível correr.

Com predominância religiosa muçulmana e etnia árabe, banhada pelo mar mediterrâneo, a República Árabe da Síria possui importantíssimos sítios arqueológicos, uma tradição antiquíssima e uma cultura marcada por grandes acontecimentos, os quais mudaram o rumo de sua história. Uma complexa e remota história, datada desde o Velho Testamento e marcada pelos passos tropeçados, que parecem se repetir há milhares de anos, como se a civilização síria estivesse presa a uma sina ancestral e maldita.

Depois de obter sua independência do mandato francês da Síria, em 1946, o país foi vítima de duros golpes militares, o que fomentou os conflitos internos, levando o país já a um emergencial estado de sítio. Nos anos que seguiram, a Síria se envolveu e passou por outros tantos conflitos, como a guerra com Israel, a tentativa de unificação com o Egito e a tomada do poder pelo partido socialista/nacionalista Baath. Essas circunstâncias fizeram o país rumar abalado para um futuro incerto e instável.

Atualmente, a Síria parece seguir convicta por um curto caminho à guerra civil. Já há tempos o país se encontra num período de violentos protestos, os quais tomaram as ruas, sob a reivindicação de significativas reformas na política atual. A tensão entre os opositores e o governo resultou em manifestações armadas, com mortes de civis. Forças opositoras reclamaram seus direitos humanos violados. Além de pedir a renúncia de Bashar al-Assad, herdeiro do caos desde 2000. O governo, por sua vez, denuncia o apoio estrangeiro às facções opositoras como uma conspiração, a qual tentaria tirar proveitos políticos de uma possível desestabilização do governo sírio. A partir daí, inicia-se a guerra diplomática entre a Síria e representantes das Nações Unidas, tentando aplicar-lhe sanções econômicas.

Seja na pele ou no papel, a Síria já há muitos anos se envolve em violentas causas, motivos e ações, das quais governo e oposição se acusam mutuamente. É um dos alvos das profecias bíblicas, assim como Israel, condenada sempre à luta, ao choro, às ruas. Como um dia foi e agora é, novamente, transgredida e inglória debaixo dos holofotes da história.

Nada muda seu rumo. O que muda são apenas as armas nas mãos daqueles que lutam de ambos os lados, por aquilo em que acreditam. E um dos berços da civilização o faz em nome de um dos mais antigos agentes da civilização: a dignidade.